quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Índios acham boto, peixes e cágado mortos após vazamento de óleo




Índios da etnia Kayabi, que moram na aldeia Dinossauro, no município de Apiacás, a 1.055 km de Cuiabá, encontraram um boto, peixes e tartarugas mortos após um vazamento de óleo no Rio Teles Pires, na divisa com o estado do Pará. Uma mancha de óleo foi localizada durante sobrevoo no domingo (13). A área fica próxima a uma hidrelétrica em construção e de outras aldeias indígenas. Os animais, segundo os índios, morreram após a contaminação. As causas do vazamento e a origem do óleo ainda são desconhecidas. O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama-MT) investiga. Segundo o cacique Tawari Kaiabi, os indígenas já pararam de consumir a água do rio e estão sendo abastecidos com galões de água potável enviada pela empresa responsável pela construção da hidrelétrica. Os animais mais afetados com o vazamento, segundo chefe da aldeia, foram os peixes, principal alimento dos indígenas. “Encontramos muitos peixes morto ao longo do rio. Estamos com dificuldades para achar alimento que não esteja contaminado”, disse. Tawari Kaibi relatou em um vídeo a dificuldade de encontrar peixes para o consumo. Além de peixes, ele afirmou já ter encontrado tracajás (espécie de cágado) e um boto mortos no rio. A contaminação alterou o modo de vida da aldeia. “Não podemos mais pescar por causa da contaminação, mas não temos muitas opções, então, continuamos consumindo peixes daqui”, afirmou Tawari. Segundo o Ibama-MT, a mancha de óleo desapareceu na quinta-feira (15). Os índios, no entanto, contestam e afirmam que algumas manchas ainda podem ser vistas no rio. “Andando por aí ainda é possível ver as manchas no rio. Os índios das outras aldeias também falam que há manchas espalhadas”, disse. Com a contaminação da água, uma das preocupações é a saúde dos índios. “Depois do vazamento as crianças e os adolescentes estão com diarreia e nossa suspeita é que tenha sido causada pela contaminação”, disse, explicando que tenta convencer os indígenas a não consumirem a água. De acordo com Tawari, a empresa tem disponibilizado a cada três dias, 80 galões de água mineral. A maior preocupação do cacique, no entanto, é com o prazo com que a água vai ser disponibilizada. “Eles só vão mandar durante 30 dias. E nós sabemos que o estrago não vai durar só isso”, declarou. De acordo com o Ibama, a mancha de óleo foi avista por equipes que faziam a fiscalização em áreas de desmatamento na região. Os sobrevoos foram feitos para saber a extensão da mancha de óleo. “Era uma mancha única e foi avistada até uns 5 km da barragem da usina”, disse César Soares, responsável pelo Núcleo de Emergência Ambientais do Ibama. O órgão ainda investiga a origem do óleo. “Não sabemos se a mancha é proveniente da construção da usina ou se foi expelida de balsas garimpeiras da região”, afirmou Soares. A mancha, ainda segundo o Ibama, desapareceu na terça-feira (15). A Polícia Federal também deve apurar o caso. Segundo a antropóloga Fernanda Silva, do Fórum Teles Pires, existem pelo menos 15 aldeias indígenas ao longo do rio.

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